Como a trilha sonora ajuda a construir histórias no cinema?

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Quando assistimos a um filme, raramente percebemos de imediato como os sons ao redor da narrativa moldam nossa experiência. Uma cena silenciosa entre dois personagens pode se transformar em romance, suspense ou tragédia dependendo das notas que a acompanham.

Para o maestro Rafael Righini, a trilha sonora não funciona como simples ornamento das imagens. “É uma outra dimensão do produto audiovisual”, defende o compositor em entrevista à imprensa. Ele destaca que, assim como enxergamos a imagem projetada, a percepção sonora integra a experiência cinematográfica e confere sentido à produção.

É essa dimensão que transmite ao espectador sensações como medo, alegria ou apreensão – e consolida as estratégias de criatividade e inovação como decisivas para o sucesso de uma trilha sonora.

Embora comumente associada apenas às músicas de um filme, a trilha sonora abarca um universo mais amplo: inclui vozes, ruídos, música e até o silêncio, cada elemento com função narrativa própria.

Na hierarquia sonora do cinema clássico, os diálogos ocupam posição privilegiada. A voz humana carrega funções dramáticas e informativas consideradas essenciais à narrativa, o que torna a banda sonora cinematográfica naturalmente “vococêntrica”, como aponta o pesquisador Michel Chion em seus estudos sobre audiovisão.

Já os ruídos se dividem em três categorias: ambientais (a “paisagem sonora” onde se desenvolve a ação), efeitos (sons de objetos específicos) e foley (sons recriados em estúdio, como passos e movimentos dos atores). Em “Apocalypse Now”, dirigido por Francis Ford Coppola, a manipulação desses elementos cria uma dimensão não-naturalista que exterioriza os estados emocionais do protagonista, por exemplo. 

A música como condutora de emoções

“No filme ‘Tubarão’, de Steven Spielberg, há cenas em que pouca informação vêm da imagem ou da palavra. É a música que está anunciando tudo”, exemplifica o coordenador pedagógico da Academia Internacional de Cinema, Martin Eikmeier, ao explicar como a composição musical sugere a presença, o caráter e os movimentos do predador submerso.

Historicamente, “O Nascimento de uma Nação” (1915), de David Griffith, é considerado o primeiro a utilizar a música como elemento narrativo coerente, com composição elaborada especificamente para o filme. Desde então, o score, ou composição original, tem sido peça fundamental na construção cinematográfica.

Já no século XXI, as plataformas de streaming de música recebem grande volume de buscas por canções que marcaram cenas memoráveis no cinema, demonstrando como as composições conseguem ter vida própria fora dos filmes.

O paradoxo do silêncio

Apesar de parecer contraditório, o silêncio constitui um elemento tão expressivo, quanto os demais que constroem uma trilha sonora. Em filmes como “2001: Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick, longos momentos silenciosos seguidos por sons impactantes criam tensão e promovem reflexão.

O silêncio pode exercer funções distintas: separar eventos sonoros (valor sintático), refletir a realidade da narrativa (valor naturalista) ou provocar efeitos emocionais como suspense e introspecção (valor dramático). A suspensão temporária do som aguça a percepção do espectador, preparando para os eventos na trama, como explicam os especialistas.

Mesmo na era do cinema mudo, a importância do som já era reconhecida. Grandes produções contratavam orquestras completas para tocar durante as sessões, enquanto filmes menores recorriam a músicos isolados ou efeitos sonoros produzidos ao vivo.

Recentemente, a revista Rolling Stone EUA elencou as 101 melhores trilhas sonoras de todos os tempos, destacando “Purple Rain” (1984), de Prince, em primeiro lugar, seguido por “Help!” (1965) e “A Hard Day’s Night” (1964), dos Beatles. A publicação priorizou conjuntos musicais que, embora associados aos filmes, desenvolveram identidade própria fora deles.

No cenário brasileiro, obras como “Lisbela e o Prisioneiro” marcaram gerações com canções como “Você não me ensinou a te esquecer”, interpretada por Caetano Veloso, eternizada na cena do beijo entre os protagonistas. Já diretores, como Kleber Mendonça Filho, utilizam o som de forma minimalista em filmes como “O Som ao Redor” e “Aquarius”, criando tensão por meio de composições instrumentais que refletem o subtexto das narrativas.

O desenvolvimento tecnológico transformou a produção e a percepção das trilhas sonoras. Segundo o maestro Rafael Righini, todo o processo de criação começa no roteiro. “Esse seria o ponto de partida para a produção de uma trilha sonora, já que todas as informações sobre a obra estariam descritas no documento”.

Rock Feminino

O site Rock Feminino é um grande banco de dados brasileiro de bandas de rock com mulheres.

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