Luciana Lys: Uma paraense em uma banda francesa de metal

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Eu descobri o Constellia há poucos meses, quando o vocalista Max Enix me escreveu pedindo para tocar no Festival. A banda francesa é formada por Max Enix (vocals, choirs, keyboards/Piano, guitars and others),  Franz Ka (baixo), Cédric Kick Mells (bateria e percussão), Patrick Wetterer (piano), Kevin Neiter Normally e Matthieu Poirier (guitarra), completando o time tem uma brasileira: Luciana Lys.

Com muita história para contar, a Paraense de 36 anos é bacharel em Biblioteconomia, pós-graduanda em Gestão Cultural  e possui curso técnico em Música – Habilitação em Canto Lírico. Atualmente, está empreendendo com música e eventos, projetos culturais, além de uma loja virtual com marca própria a ser lançada em breve.

A Luciana tirou um tempinho para conversar comigo e me falar como surgiu essa história de banda francesa e sua trajetória na música. No bate-papo, descobri que a Lu já foi vocalista na banda Santo Graal, um banda que amo de paixão! Confere aí!

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Vivian Guilherme: Você já passou por outras bandas antes da Constellia, quais foram e que estilo de som costumava fazer?

Luciana Lys: Minha carreira começou de fato em 2003, mesma época em que ingressei no curso de canto lírico. Participei de óperas, concertos, como coralista e solista e paralelo a isso, eu tive minha primeira banda de Metal, que se chamava Orion. Tudo isso em Belém do Pará, minha terra natal. Em 2010 vim para São Paulo com foco em me desenvolver na área artística e profissional e tive contatos e parcerias com muitos músicos tanto da área erudita quanto no rock. Já cantei em banda de Rock/blues autoral, banda cover de classic rock, fui vocal da banda de Metal Sinfônico Santo Graal, banda que nasceu em Belém do Pará, fundada e liderada pelo meu amigo Paulo Francioli, cantei  também por 3 anos na extinta  banda de metal tradicional paulistana Prodigal Sinner, fundei um Tributo ao Ac/Dc feminino chamado Hells Girls  e em parceria com meu amigo Kalil Bentes, temos o Duo Norteando, onde tocamos músicas regionais paraenses, buscando resgatar principalmente o lado do folclórico amazônico,  que na minha opinião, ainda é pouco divulgado, faço tributo ao Nightwish pra não perder o “feelling” do metal sinfônico, pois é um estilo que exige muito treino e estou sempre fazendo freelancers como cantora solo e backing vocals em São Paulo e no interior.

– Como você chegou ao Constellia? Os rapazes são da França e você está aqui no Brasil, como os conheceu e como é processo para ensaios e shows?

Cheguei ao Constellia à convite do próprio idealizador do projeto, o vocalista principal e compositor Max Enix. Tudo aconteceu graças a um vídeo que gravei em parceria com o canal do YouTube “Piano and Roll ”, dos meus queridos André Cardoso e Everton Soares Manso. Gravamos um cover da música “Angels Fall First” do Nightwish em 2016 e esse vídeo nos deu um ótimo retorno, tanto em feedbacks positivos, quanto em compartilhamentos, curtidas e visualizações. É até engraçado, por que uns 2 dias depois, meu Facebook entupiu de solicitações de amizade, recebi várias propostas de banda, que na época acabei negando por estar na Santo Graal, enfim… e no meio desse  “boom” de gente de toda parte me adicionando, veio o contato do Max e o convite para participar da banda que ele lançaria que é a Constellia. Passamos mais de um ano conversando e avaliando como seria a logística, mas como me identifiquei muito com a proposta da banda, resolvi topar o desafio. Ele então me enviou as músicas para estudo e criação das linhas de backing vocals, até que resolvemos dar o primeiro passo e em 2018 eu estaria lá na França gravando as partes vocais e filmando o vídeo clipe da música “Candle of hope”.  Em março deste ano, eu retornei para filmar o vídeo clipe da música “The Ocean of Dreams” e subi ao palco com a banda pela primeira vez na casa de Show Le Grillen, em Colmar, região da Alsácia. Fizemos uns 5 ou 6 ensaios antes até o dia da apresentação e foi uma experiência incrível! Deu tudo certo, como se já estivéssemos ensaiando há muito mais tempo… a gente se fala pelo grupo privado, Max corre atrás de divulgação e está cavando as oportunidades pra divulgar esse projeto e para que possamos alçar voos maiores. Ele sempre soube das minhas limitações, até porque moro e trabalho no Brasil e a banda ainda não se sustenta sozinha, por isso a banda se apresenta normalmente sem mim, mas ele sempre enfatiza que a Constellia possui dois vocalistas rs. A ideia é mantermos essa parceria e vencer cada vez mais os obstáculos.

– Na sua opinião, qual o diferencial do trabalho do Constellia?

O diferencial está em não seguir fórmula, nem se rotular. O estilo da Constellia foi criado pra ser uma fusão de elementos musicais e poéticos e o que me chamou a atenção foi o aspecto explorado nas letras e nos clipes…uma atmosfera misteriosa, enigmática, moderna, futurista, misturando ao mesmo tempo aspectos opostos: claro e escuro, dia e noite e Yin e Yang…

– Você acompanha o cenário do metal no Brasil e no mundo, como vê o público? Fora daqui o metal está mais vivo, ou o cenário é o mesmo?

Acredito que as dificuldades acerca de conseguir “fazer nome” de fato na cena, ainda permanecem. As bandas ainda apostam e buscam oportunidades de se lançar no exterior, principalmente na Europa, pra ganhar o devido respeito por aqui. Temos bandas e artistas do rock/metal muito bons, porém que ainda não tiveram a oportunidade de se lançar lá fora e infelizmente, enquanto viver de tocar em barzinho no Brasil, por mais bem trabalhado que seja o som, não vinga tão facilmente. O público existe e é atingido sim, afinal estamos em plena era digital. O lance hoje no mercado como um todo e não só musical, não é só atingir o público e sim, engajá-lo. Para sobreviver nesse meio, você precisa ser muito mais que um bom músico, precisa ser criativo desde a forma de compor à forma de divulgar e construir a imagem de sua banda perante o público. Precisa sim mostrar algo novo, senão, infelizmente, vai ser só mais um, porque diferente das décadas anteriores, em que o público underground gastava horas numa loja de discos procurando um som diferente pra sacar, hoje tudo acontece em tempo real. Por outro lado, culpa-se muito o público, que não vai nos shows, não compra os CD’s…ok! Isso é apenas um ponto. Temos que lembrar também, que bandas maravilhosas nem sempre tem um espaço decente pra tocar, tendo que se expor em lugares muitas vezes com equipamentos ruins, cachê inferior…ou tem lugares, casas de show excelentes, mas que não dão oportunidade pra banda de metal nacional. Uma boa medida, por exemplo, é se vai ter show de uma banda famosa, porque não colocar uma banda nacional pra abrir o show, com a mesma estrutura e cachê justo? Creio que esses são alguns dos problemas que a gente ainda enfrenta no cenário brasileiro. Os festivais tanto no Brasil quanto no exterior, sempre lotam, então a gente sabe que o metal continua mais vivo do que nunca.

– Você acredita que as músicas cantadas em inglês tem maior aceitação, principalmente, quando se fala em rock?

Acho que depende do estilo e do propósito da banda. Um estilo mais voltado pro hard rock, o próprio hardcore, punk, um rock and roll mais clássico ou mesmo o metal tradicional, tem muita banda que foi super bem aceita pelo público e está na ativa até hoje cantando em português, já a galera do estilo symphonic, gothic, metal melódico, power metal ou as bandas de metal extremo, não se arriscam muito a cantar em português, justamente pra buscar uma aceitação maior no exterior e isso geralmente funciona…eu sempre digo que a língua inglesa está para esses estilos assim como as óperas estão para a língua italiana rs. Esse é um dos motivos que a Constellia mesmo sendo uma banda francesa, também optou por letras em inglês.

– Quais os novos projetos e o que está por vir?

Com a Constellia, o foco ainda é alcançar cada vez mais espaço, mas é claro que as composições permanecem em paralelo…Max tem muitas idéias a trabalhar. Pretendo também retornar à música erudita, pois de alguma forma, ela sempre foi a minha escola e sinto falta. Fora isso, tem uma Ópera Rock da qual fui convidada a participar há algum tempo e que se chama “O Renascer dos Tempos”, composta por Cláudio da Silva Cruz (ex – Harppia) em 1979 e que estamos em processo de gravação e produção. No mais, estou sempre aberta a propostas de parcerias. Musicalmente, ainda não atingi meu objetivos, portanto o lance é trabalhar rs.

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NA PISTA:

Qual o ‘cast’ dos sonhos para um Festival Rock Feminino?

Nightwish; Epica; Lita Ford; Arch Enemy; Tarja Turunen; Doro Pesch; e Nervosa.

Quais seriam as músicas do melhor CD de Rock Feminino de todos os tempos?

Algo que mesclasse diferentes épocas e estilos, por exemplo: Heart – “If looks could kill”; Doropesch  – “Even angels cry”; Janis Joplin – “Maybe”;  Epica – “Sensorium”; Nightwish – “Stargazers”; Vixen – “Edge of a broken heart”; Renaissance – “Carpet of the sun”; Curved Air – “It happen to day”; Jefferson Airplane – “Somebody to love”; Lita Ford – “Falling in and out of love”.

Quem seriam as integrantes da banda Rock Feminino dos sonhos?

Lita Ford (Guitarra e voz principal); Suzie Quatro (Baixo e voz); e Cindy Blackman (Bateria).

Qual o melhor show que você já foi?

O último do AC/DC no Brasil, em 2009.

E melhor show que você ainda não foi?

Gamma Ray, Jethro Tull e Nightwish.

Qual CD você esconde da galera da banda?

O LP Stand Up do Jethro Tull (demorei pra achar) e Trilogy do ELP

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NO PALCO:

O melhor show que já fez?

Com a Constellia esse ano na França, sem dúvida

O pior show que já fez?

Há muitos anos lá em Belém do Pará, minha banda na época tocou num boteco bem apertado, e o palco ficava perto do banheiro masculino e cada vez que a porta abria vinha o mau cheiro e eu mal podia respirar, e se respiro mal, canto mal, obviamente.

A música que tem mais orgulho de ter gravado/composto?

Candle of Hope da Constellia. O dueto ficou muito bonito e amei ter feito esse clipe também. Neste caso, apenas gravei.

Qual música que decidiu esconder da galera da banda?

Nenhuma

Por quantas bandas já passou e qual sente mais saudade?

Passei por muitas bandas covers, então falando apenas de autoral, vou considerar que passei por 3. Não sinto saudades de nenhuma, mas sinto gratidão por fazerem parte da minha trajetória e de algumas pessoas que trabalhei nestas bandas, sinto saudades também.

Qual projeto musical gostaria de ter no futuro?

Algum Power Metal Sinfônico ou alguma outra proposta nova, ousada e que fosse desafiadora pra mim.

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 NO BACKSTAGE (completando a frase):

Tinha pôster do Iron Maiden na parede do meu quarto até  2005.

Quebrei um CD do Angra – Angels Cry de tanto ouvir.

Tenho vergonha de dizer mas já me auto sabotei muito nessa vida musical e perdi muito tempo tentando agradar mais os outros do que a mim mesma.

Na banda eu sou a mais baixinha de todas (sempre!).

Minha camiseta do AC/DC praticamente andava sozinha.

No catering do show não pode faltar água e maçãs.

Esqueci um pedaço da música Hallowed be thy name, do Iron Maiden e tentei enrolar fazendo trava-língua em um idioma que inventei na hora kkkkkk

O que mais me arrependo é de não ter feito mais coisas na música erudita.

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Vivian Guilherme

A autora é jornalista, mestre em Ciência, Tecnologia e Sociedade pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), graduada em Letras e pós-graduada em jornalismo contemporâneo. Produtora musical e técnica em áudio profissional, foi eleita Personalidade Musical do Ano (2008 e 2011) pelo Prêmio GRC Music (extinto Prêmio Toddy de Música). É criadora do Festival Rock Feminino e webmaster do Rockfeminino.com.br.

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