SWU – O maior festival da America Latina
Foram três dias com apresentação das principais bandas do cenário musical nacional e internacional. Ao todo 74 atrações foram apresentadas. O SWU Music Arts Festival 2010 aconteceu na cidade de Itu-SP nos dias 9, 10 e 11 de outubro. O local escolhido para sediar o encontro entre os cabeludos e tatuados foi a Fazenda Maeda, alguns quilômetros do centro histórico da cidade.
O evento que prometia ser o Woodstock brasileiro foi além das expectativas. Apesar de diversas críticas da imprensa nacional em relação às falhas técnicas e estruturais, agradou tanto as bandas que tocaram quanto o público que compareceu em massa para ver e ouvir grandes nomes da música.
PRIMEIRO DIA
Quem abriu a maratona de shows foi a banda Brothers of Brazil, formada pelos irmãos Supla e João Suplicy. A dupla subiu no Palco Água e mostrou que é possível misturar rock e bossa nova e ainda tirar gritos da multidão.
Ainda no Palco Água o grupo de Sérgio Dias, Os Mutantes, tocou velhos sucessos como “Vida de Cachorro”, “Tecnicolor” e “Baby”. É sempre bom ver pulsante o rock lisérgico brasileiro.
Outros destaques foram Los hermanos, com uma performance medíocre e nada empolgante; e a mais aguardada da noite Rage Against the Machine. O show dos “sobrinhos de Che” foi interrompido após a queda da grade que dividia a pista comum da pista premium. Alguns minutos depois o vocalista, Zack de la Rocha, pediu calma e, em seguida, sacudiu a multidão com uma porrada de clássicos.
Tom Morello, guitarrista do RATM, lançou mão do tradicional boné e vestiu outro do Movimento Sem Terra brasileiro – ato que foi censurado pela rede Globo de Televisão. Um concerto emblemático e que vai deixar lembranças até em quem não gosta de rock politizado.
Mallu Magalhães foi a atração principal do Palco Oi. Com a tradicional voz suave, lembrou de sucessos da puberdade e ainda tocou novas composições inspiradas por Chico Buarque, influência clara do namorado Marcelo Camelo.
SEGUNDO DIA
No segundo dia foi a vez de Sublime With Rome dar as caras com o novo vocalista, Rome Ramirez, que parece ter sido escolhido pela semelhança com a voz de Bradley Nowell, morto por uma overdose de heroína. Joss Stone cantou seu soul pop já esperado e sem grandes novidades, e Kings of Leon teve uma recepção fria da galera que não conhecia grande parte das músicas.
Capital Inicial e Regina Spektor levantaram a geral; e por fim Dave Matthews Band fechou a noite com chave de ouro. No Palco Oi, Otto e Tulipa Ruiz dividiram a atenção dos palcos Água e Ar.
TERCEIRO DIA
Linkin Park, que experimentou novas músicas para uma plateia sedenta pelo arroz com feijão, inicialmente era o grupo mais esperado do último dia. No entanto, Incubus e Pixies roubaram a cena. Brandon Boyd, vocalista do Incubus, mostrou-se um verdadeiro showman, cheio de energia e vigor.
Já Pixies fez uma apresentação de tirar o fôlego e tocou três canções no bis: “Planet of Sound” (do álbum Trompe Le Monde, de 1991), “Where Is My Mind” e “Gigantic”. O vocalista Frank Black subiu no Palco Água carrancudo e com um gorro na cabeça. Ainda que os fãs não tenham reclamado desse detalhe, só conversou com o público para dar ‘boa noite’, após a execução das músicas bônus. A baixista Kim Deal fez toda a comunicação do concerto e arriscou, inclusive, algumas palavras em português.
Destaque para Alain Johannes que segurou a atenção dos fãs com apenas um violão bem tocado, o que os suecos da Crashdiët não conseguiram mesmo com muito glitter, cabelos esvoaçantes e presença de palco copiada de Poison, Bon Jovi e outros dinossauros da década de 80.
No Palco Oi a banda Autoramas, comanda por Gabriel Thomaz, quebrou tudo em uma sequência de sons corretos e com direito a coreografias ensaiadas. BNegão e os Seletores de Frequência mostraram a verve funkrockcarioca; e Cansei de Ser Sexy colocou muito tiozão do punk no chinelo. A vocal Lovefoxxx com seu aspecto doce pulava e interagia com muito senso de humor.
SUSTENTABILIDADE
O guia do evento descreve da seguinte forma: “O SWU é um movimento pela sustentabilidade, divertido e irreverente. Uma iniciativa que aponta caminhos para as pessoas começarem a construir um mundo sustentável”.
Para dar vida a esse conceito a mostra de artes visuais contou com diversas obras, entre elas, “O labirinto”, de Eduardo Srur – construída com 40 toneladas de materiais recicláveis; O “Ônibus Verde”, criado pelo coletivo Bijari; “Cataventos”, produzidos pela Cooperativa Social de Produção de Arte em Materiais Recicláveis e Coleta Seletiva; além da exposição “Sea Creatures”, concebida por Julie B. da Planet Illogica.
A programação contou também com o Fórum Global de Sustentabilidade. O tema discutido no primeiro dia foi “Negócios sustentáveis”. O segundo tratou da “Inclusão das minorias” e o último, “O Jovem e o meio ambiente”. Nomes nacionais e internacionais de destaque deram as caras no evento paralelo.
Em entrevista ao site ROCK FEMININO, o vocalista do Capital Inicial, Dinho Ouro Preto, destacou sua preocupação com a sustentabilidade, mas lembrou que todo esse conceito ecológico deve ser construído em consonância com o homem. “Temos que pensar na sustentabilidade, mas não podemos esquecer o papel do homem. Temos que fazer essa relação. As coisas têm que viver em harmonia”, observou.
Gabriel Thomaz, vocalista da banda Autoramas, brincou com o tema. “Nós precisamos tocar. Temos que ter sustentabilidade”. Num tom mais sério e engajado a baixista Flávia Couri destacou a importância do evento e salientou a preocupação de cuidar do meio ambiente.
MORAL DA HISTÓRIA
O que ficou claro durante os três dias é que todo o conceito apresentado fazia parte de uma campanha de marketing para as empresas patrocinadoras: Nestlé, Oi, Heineken e Coca-Cola. Talvez esse tenha sido o motivo da não adesão do público, que sequer cuidou do próprio lixo nas imediações da fazenda. Latas de cerveja, copos e outros objetos plásticos forravam o gramado do local.
Outro ponto que causou insatisfação na geral foram os preços abusivos. A água juninho custava R$ 4.00, já a lata de cerveja R$ 6.00 e alimentos não eram encontrados por menos de R$ 8.00. Era possível ouvir no meio da multidão pessoas resmungando: “isso é sustentabilidade no bolso dos organizadores”.
Reclamações pontuais à parte, quem foi ao SWU saiu satisfeito com a diversidade musical e aguarda a segunda edição do evento. Fato que talvez pode não se concretizar, uma vez que o organizador, Eduardo Fischer, adiantou o interesse manifestado por diversos países em sediar o encontro.
Texto e fotos: Lourenço Favari, o autor foi convidado pela produção do evento e escreveu colaborativamente para o Rock Feminino.
Confira a cobertura em vídeo, veiculada na TV Cidade Livre: