Daniel Rezende: conheça o autor do livro “Rock Feminino”

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Professor da Universidade Federal de Lavras (MG) desde 2006, Daniel Carvalho de Rezende acaba de lançar o livro “Rock Feminino”, que traz resenhas de grandes álbuns de rock feitos por mulheres. Engenheiro de Produção, Mestre em Administração, Doutor em Ciências Sociais e, atuando na área de Comportamento do Consumidor, as pesquisas de Daniel se alternam entre o consumo de alimentos e o consumo cultural, como séries, música, literatura etc.

Confira o livro disponível para venda na Amazon.

No livro “Rock Feminino”, Daniel traz 43 álbuns de bandas/artistas que vão desde ‘The Ronettes’ a ‘Courtney Barnett’. Nesta entrevista ele fala sobre o processo de escrita, suas bandas favoritas e novos projetos. Confira!

Vivian Guilherme: Como surgiu a ideia de escrever o livro Rock Feminino?

Daniel Rezende: Sou fanático por rock desde a infância, e sempre li muito a respeito (assinava a saudosa revista Bizz, que me influenciou muito). Tentei ser músico mas faltou talento. De uns anos pra cá, canalizei minhas pesquisas acadêmicas para o consumo cultural, e isso despertou meu lado jornalista/crítico musical frustrado. Então decidi produzir algo sobre música fora da abordagem acadêmica, de forma mais livre e autoral. O primeiro livro que escrevi foi “Rock alternativo: 50 álbuns essenciais”, que publiquei em 2018. Desde 2015, comecei a ter interesse pelo rock feminino atual no cenário indie, e descobri uma infinidade de novas artistas muito interessantes. No início de 2018, veio a ideia de escrever um livro sobre o tema, nos mesmos moldes do anterior: ou seja, uma coletânea cronológica com resenhas críticas dos álbuns mais representativos da história das mulheres no rock. Foram 6 meses de intensas pesquisas e mais 6 meses escrevendo.

– Como surgiu a possibilidade de publicação?

Na verdade, desde o primeiro livro o que me estimulou foi a possibilidade de publicação no Kindle Direct Publishing (KDP), da Amazon. Quem me inspirou foi minha filha Júlia, que já escreveu dois romances e, diante da dificuldade de conseguir publicar, optou por colocar o livro no KDP, um processo simples, sem burocracia e em que o autor mantém a integralidade dos direitos autorais. A grande dificuldade é que, embora o livro fique disponível no mundo inteiro, a Amazon não faz nada pra divulgá-lo. Como nunca tive grandes pretensões comerciais, esse modelo caiu como uma luva.

– Qual critério utilizou para destacar essas artistas/bandas em particular?

Foi bem complicado selecionar os 43 álbuns, pois na medida em que fui pesquisando cada vez apareciam mais artistas relevantes. Tentei agregar artistas de períodos e subgêneros diferentes, e tentei também usar um conceito de rock um pouco mais restritivo do que outros autores utilizaram. Além disso, só foram elegíveis artistas solo, bandas exclusivamente femininas ou grupos multigênero em que a mulher (ou as mulheres) fosse protagonista. Uma barreira que enfrentei ( e não consegui superar) foi a minha pouca vivência e admiração por heavy metal, e o livro acabou não contemplando bem esse segmento tão importante.

– Pretende dar sequência no livro?

Uma sequência possível seria justamente a ampliação do livro incluindo artistas de heavy metal. Até já convidei um amigo que entende muito do assunto para ser parceiro nessa empreitada.

Você já enfrentou algum tipo de resistência, por ser um cara escrevendo sobre mulheres no rock?

Não. Geralmente a recepção é muito positiva. Percebo às vezes somente algum estranhamento com relação ao tema, não com relação ao fato de ser um homem escrevendo sobre isso.

Como está sendo a repercussão dele com vendagens?

As vendas estão dentro do esperado (ou seja, baixas). Atribuo isso a vários fatores: pouca divulgação (por não ter uma editora por trás), o fato de eu não ser conhecido no meio da música ou do rock (network pesa muito nessas horas) e, talvez, o fato das pessoas não gostarem muito de ler sobre música. Além disso, sinto um certo desinteresse mesmo por parte de fãs de rock (e desconhecimento da maioria das artistas que estão no livro), o que demonstra, ao meu ver, o forte componente machista historicamente presente no gênero.

O que tem percebido no público que consome rock hoje em dia?

Geralmente são mais velhos. A nova geração, em geral, se interessa pouco por gêneros específicos, tem preguiça de conhecer mais sobre os artistas e é movida por playlists ao invés de álbuns. Além disso, o rock perdeu um pouco do seu status de símbolo de rebeldia e contracultura, sendo substituído por hip hop e outros subgêneros no contexto das novas gerações.

E as pessoas que produzem rock, como você percebe o mercado?

Pelo que leio, o mercado independente está bem forte fora do país. No Brasil, temos pouco espaço. Embora sejamos um grande mercado para o que vem de fora (hard rock e metal, principalmente), os artistas brasileiros têm que ser muito determinados pra sobreviver. Temos cenas legais em cidades como São Paulo e Goiânia, mas muito aquém do potencial de consumo de um país desse tamanho.

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NO PALCO

Qual o ‘cast’ dos sonhos para um Festival Rock Feminino?

PJ Harvey, Patti Smith (que estará aqui no Brasil mês que vem), Hole, Joan Jett, Sleater-Kinney, Courtney Barnett, Blondie, Bikini Kill, Breeders… E por aí vai…

Quais seriam as músicas do melhor CD de Rock Feminino de todos os tempos?

Essa é difícil, hein? “Cherry bomb” (Runaways), “Crazy on you” (Heart), “Rid of me” (PJ Harvey), “One way or another” (Blondie), “Sister” (Angel Olsen), “Cannonball” (Breeders), “Maps” (Yeah Yeah Yeahs), “Pretend we´re dead” (L7), “Doll parts” (Hole), “Because the night” (Patti Smith), “Bad reputation” (Joan Jett), “Ovelha negra” (Rita Lee), “Every single night” (Fiona Apple)

Quem seriam as integrantes da banda dos sonhos de Rock Feminino?

Moe Tucker (Velvet Underground) na bateria, Kim Gordon (Sonic Youth) no baixo, Joan Jett e Carrie Brownstein (Sleater-Kinney) nas guitarras, PJ Harvey nos vocais. E a rainha punk Patti Smith como letrista!

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Qual o melhor show que você já foi?

PJ Harvey (Apollo Manchester, 2011).

E melhor show que você ainda não foi?

Muitos: Angel Olsen, Big Thief, Fiona Apple, Sleater-Kinney, Pretenders

Qual livro você gostaria de ter escrito?

Gostaria de ter escrito “Our band could be your life”, do Michael Azerrad, que disseca a cena underground americana dos anos 1980.

Qual livro você ainda vai escrever?

Quero escrever um livro sobre rock brasileiro. Uma possibilidade que me agrada é abordar a cena independente que floresceu no início da década de 1990, mas ficou restrita ao underground. Bandas como Pin Ups, Killing Chainsaw, Second Come, que foram abordadas no ótimo documentário “Guitar days”.

>> Na próxima semana a entrevistada é Neila Abrahão, guitarrista e jurada do programa Canta Comigo.>>

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Vivian Guilherme

A autora é jornalista, mestre em Ciência, Tecnologia e Sociedade pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), graduada em Letras e pós-graduada em jornalismo contemporâneo. Produtora musical e técnica em áudio profissional, foi eleita Personalidade Musical do Ano (2008 e 2011) pelo Prêmio GRC Music (extinto Prêmio Toddy de Música). É criadora do Festival Rock Feminino e webmaster do Rockfeminino.com.br.

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