Marina Lima: elegância, coragem e talento a serviço do rock nacional
Marina Lima (que muitos, como eu, ainda chamam somente de Marina) é uma desbravadora, que rompeu barreiras, inspirou comportamentos e foi uma das grandes estrelas da música brasileira no auge da sua carreira, nos anos 1980. Carioca, Marina viveu dos 5 aos 12 anos nos EUA, onde começou a desenvolver seus dotes musicais. De volta à Cidade Maravilhosa, montou uma banda com Lobão na bateria e vários dos futuros integrantes da Blitz. Lançou seu primeiro disco solo em 1979, antes da explosão do rock brasileiro.
Instrumentista e arranjadora talentosa, preferia fazer parceria com letristas nas suas composições. Seu maior parceiro foi o irmão Antônio Cícero, poeta e filósofo, com o qual compôs quase 200 músicas, entre elas clássicos do pop/rock brasileiro que explodiram nas rádios nos anos 1980 (quando assinava somente como Marina), como “Fullgás”, “Pra começar” e “Virgem”. Suas versões de “Me chama” (Lobão), “À francesa” (Cláudio Zoli e Antônio Cícero) e “Mesmo que seja eu” (Roberto e Erasmo Carlos) foram sucessos estrondosos.
O grande hit veio em 1987: “Uma noite e ½” (de Renato Rockett, baixista da banda da cantora na época), que carrega na sonoridade toda a elegância e pompa do rock internacional produzido nos anos 1980, e se tornou o hino do verão carioca por meio de seus versos de abertura: “Vem chegando o verão/ Um calor no coração/ Essa magia colorida/ Coisas da vida/ Não demora muito agora/ Todas de bundinha de fora/ Topless na areia/ Virando sereia.”
Em 1991, a cantora voltou a incorporar o Lima ao final do nome artístico, e lançou o disco homônimo que é o meu preferido, por sua delicadeza e intimismo. Faixas como “Não sei dançar” (E tudo que eu posso te dar/ É solidão com vista pro mar…), “Grávida” (parceria com Arnaldo Antunes) e “Criança” revelavam um lado mais contemplativo e pessoal.
Dois anos depois, após a gravação de “O chamado”, Marina entrou em depressão, cancelou uma turnê inteira e viu seu estado psicológico afetar profundamente a sua voz. Aos poucos ela foi retomando a carreira, mas até hoje tem que conviver com os problemas vocais. Uma das grandes marcas da cantora é o ativismo político e a coragem de expressar suas posições (ela deixou clara a sua bissexualidade desde cedo, numa época em que isso ainda era um grande tabu).
Em 2011, tomou uma decisão marcante e se mudou para São Paulo em busca de novos desafios, pois sentia que o Rio a estava “enquadrando” e limitando sua capacidade artística. Antenada às novas tendências (como a riqueza da música que vem das periferias), incorporou a música eletrônica em suas gravações mais recentes, que incluem composições com Letrux, Arthur Kunz e Dustan Gallas, um funk em parceria com Antônio Cícero, intitulado “Só os coxinhas”, e o disco Novas famílias. Aos 64 anos, ainda impressiona pela beleza e vigor, mostrando que ter quarenta anos de carreira e mais de vinte discos gravados são credenciais importantes e que devem ser reconhecidas, mas que é fundamental se reinventar e olhar sempre pra frente.
Foto: Divulgação / Pomm_elo
Pra conhecer mais:
Biografia: “Maneira de ser”, lançado em 2012
Documentário: “Uma garota chamada Marina”, dirigido por Candé Salles e lançado em 2019
Site oficial: www.marinalima.com.br