Descubra ótimos álbuns lançados em 2019

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É com muito prazer que dou início à coluna “Histórias do rock”, que terá no cardápio reflexões sobre música, radar de novas bandas, resgate de artistas esquecidas, e o que mais “der na telha”! Estou aberto pra dicas e sugestões!

Pra começar, dicas de álbuns marcantes de 2019, um ano muito rico para o rock feminino. Pra quem acha que o gênero está morrendo e só fica ouvindo bandas antigas, vale a pena arriscar e se surpreender, pois tem muita coisa legal sendo produzida.

Ex Hex – It´s real

O Ex Hex é um grupo americano formado em 2013 e liderado pela veterana guitarrista Mary Timony, que tem uma rica história no underground participando de bandas como Autoclave, Helium e Wild Flag. It´s real é o segundo álbum da banda, e mescla influências do rock de garagem, hard rock e metal com uma pitada pop irresistível. Letras hedonistas, riffs memoráveis e muita energia são a fórmula para o álbum mais divertido e “easy listening” de 2019.

Destaques: “Tough enough”, “Another dimension”, “Cosmic cave”.

ex hex

Big Thief – UFOF e Two hands

Esse foi o ano de ouro do Big Thief. A banda de Nova York liderada pela genial Adrianne Lenker lançou dois álbuns em sequência (UFOF e Two hands) e deixou os fãs indecisos sobre qual deles era o melhor. Em ambos, o quarteto demonstra confiança e coesão magistrais, refinando o “grunge folk” que já tinha aparecido em formato brilhante no disco Capacity, de 2017. As reflexões existenciais de Adrianne conjugam dor e esperança de forma ímpar, enquanto a banda leva as melodias tortuosas por caminhos imprevisíveis. O tom intimista e os detalhes sonoros geram uma atmosfera ao mesmo tempo acolhedora e intrigante. O ponto alto é a barulhenta “Not” (primeiro single de Two hands), que conta com uma jam matadora ao final. A príncípio destinada a ser uma pequena jóia indie, os indícios já apontam para um futuro (próximo) bombástico para a banda de Lenker e seus amigos.

Destaques: “Not”, “Two hands” e “Forgotten eyes” (do álbum Two hands).

“Contact”, “Cattails” e “Jenni” (do álbum UFOF).

big thief

Angel Olsen – All mirrors

A dor costuma ser uma das grandes fontes de inspiração artística. Em seu quarto álbum, Angel Olsen emerge das profundezas de um relacionamento mal-sucedido para a redenção, por meio de canções épicas, impregnadas de dor e superação. Saindo mais uma vez de sua zona de conforto, Olsen deixa pra trás o rock retrô com guitarras afiadas do sensacional My woman (2016) e entra de cabeça num pop orquestral, grandioso e imponente. O vibrato de Olsen, versátil e marcante como nunca, continua sendo o ponto alto. Produção detalhista, toques eletrônicos e sensibilidade à flor da pele emolduram uma obra intensa, nada indicada para uma audição casual.

Destaques: “All mirrors”, “Spring” e “What it is”.

angel olsen

Sleater-Kinney – The center won´t hold

Depois de quase 30 anos de carreira, o que uma banda deve fazer para continuar relevante? A resposta quase sempre é: se reinventar e correr riscos. E é exatamente isso que o Sleater-Kinney faz em seu nono álbum de estúdio. Deixando de lado a sonoridade crua e barulhenta que foi a marca registrada da banda desde que surgiu como integrante do movimento feminista Riot grrrl, Carrie Brownstein, Corin Tucker e Janet Weiss se juntaram à Annie Clark (vulgo St Vincent) e incorporaram seu estilo art pop minimalista e impregnado de eletrônica. O resultado foi um álbum que dividiu críticos e afastou muitos fãs antigos. Na minha opinião, a ousadia funcionou muito bem, pois ainda temos os riffs poderosos e as letras cáusticas e ferinas (desta vez, refletindo sobre os preconceitos contra as mulheres que já passaram dos 40 anos). Uma adição essencial ao catálogo já quase perfeito de uma das maiores bandas de rock alternativo da história, The Center won´t hold mostra que se aventurar por novas estradas pode ser bem melhor do que seguir o caminho dos dinossauros do rock – que optam pela acomodação e pelo apelo nostálgico. Só que, nesse caso, com um efeito colateral grave: Janet deixou a banda após o lançamento do disco, insatisfeita com a nova sonoridade.

Destaques: “Hurry on home”, “The future is here” e “Ruins”.

sleater

Daniel Rezende

Daniel Carvalho de Rezende é professor da área de Comportamento do Consumidor na Universidade Federal de Lavras (Minas Gerais). Desenvolve pesquisas sobre consumo cultural no âmbito dos cursos de mestrado e doutorado em administração. Entre os artigos científicos que já publicou sobre o tema, destacam-se: “As expressões do girl power na série Game of thrones”, “Consumo e distinção social no campo cultural da música: um estudo em Minas Gerais” e “'Pra nós, todo o amor do mundo': formação de identidade e consumo musical dos fãs da banda Los Hermanos”. Apaixonado por rock, já escreveu dois livros que abordam essa temática: Rock alternativo: 50 álbuns essenciais, publicado em 2018, e Rock Feminino, lançado em 2019.

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